sábado, 11 de julho de 2009

As novas fronteiras da Nutrição: a Nutrigenómica e Nutrigenética


Dietistas e nutricionistas referem que não existem dietas milagrosas. O sucesso de estratégias de intervenção alimentar para emagrecimento, prevenção de doenças relacionadas...... com o envelhecimento ou de manutenção da saúde em geral, depende do estabelecimento de uma dieta personalizada.

Os resultados dependem ainda da sua manutenção a médio ou longo prazo e do devido enquadramento num estilo de vida saudável.O conceito de abordagem personalizada nas ciências biomédicas, mereceu especial relevo a partir da divulgação dos primeiros relatórios do projecto de sequenciação do genoma humano, publicados em 2001 nas revistas Nature e Science.

Desta forma deu-se um passo importante no conhecimento de mutações genéticas associadas a patologia, para um conjunto significativo de doenças comuns, como a diabetes, artrite reumatóide, doença coronária e outras. Novas tecnologias emergiram, permitindo estudar de uma forma mais abrangente as relações entre genes, proteínas e metabolismo no seu conjunto. Surgiram assim áreas de estudo como a genómica, proteómica e metabolómica.

Os trabalhos de investigação que eram efectuados com apenas alguns genes ou proteínas, candidatos ao envolvimento em processos fisiológicos ou patológicos, passaram a avaliar dezenas de milhares de alvos, recorrendo a microchips ou outras estratégias de análise de dados em larga escala. A nutrigenómica surgiu neste contexto e tem como objectivo relacionar dados genéticos entre indivíduos saudáveis e doentes com a sua dieta tendo em consideração outras variáveis como o estilo de vida, a idade, o sexo e outras. As evidências sobre as interacções entre genes e dieta são conhecidas pelos exemplos clássicos da intolerância à lactose e fenilcetonúria. No primeiro caso, foram descritas mutações no gene da lactase, uma enzima de secreção intestinal que catalisa a hidrólise da lactose em glicose e galactose.

Estas alterações genéticas encontram-se associadas à incapacidade de digestão do leite e seus derivados. No caso da fenilcetonúria, a deficiência genética da enzima fenilalanina hidroxilase é responsável por debilidade mental moderada a severa e convulsões. Contudo, uma dieta pobre em fenilalanina pode diminuir os efeitos cerebrais da deficiência desta enzima. Ao longo da vida, contactamos com uma mistura complexa de alimentos e usamos diversos processos bioquímicos de extracção de energia dos nutrientes e outros compostos, que nos permitem o crescimento e uma vida saudável. Hoje em dia, sabemos que a dieta pode permitir a manutenção do estado de saúde e a prevenção de doenças relacionadas com a idade.

É também evidente que os benefícios de algumas escolhas alimentares não são iguais para todos os indivíduos. A nutrigenómica parte do princípio de que componentes da dieta afectam o genoma humano e são capazes de alterar a expressão dos genes. Alguns genes controlados pela dieta podem ter um papel importante no início ou progressão de doenças crónicas e de origem genética. O grau de influência da dieta na saúde pode assim depender da constituição genética do indivíduo. Uma avaliação nutrigenética analisa as características genéticas individuais que podem influenciar a sua resposta aos alimentos, enquanto a nutrigenómica permite estudar ao longo do tempo a influência da dieta na expressão dos genes.

Outras áreas interessantes de estudo relacionam- se com a influência genética no apetite e nas preferências e escolhas alimentares. Considerando a intervenção de múltiplos factores nestas características individuais, não pode deixar de ser tida em conta também a componente genética. Recentemente, foi criada a Organização Europeia de Nutrigenómica (European Nutrigenomics Organization, NUGO) com o objectivo de traduzir os dados da nutrigenómica na prática, reportando os efeitos adversos e benéficos para a saúde de determinados componentes da alimentação.

O projecto NUGO foi desenhado para unir empresas e peritos com uma ampla experiência em nutrição, genética, sistemas de informação e tecnologia. Apesar de haver ainda um longo caminho a percorrer na nutrigenómica e nutrigenética, há razões para crer no horizonte promissor do estudo da relação entre genética e nutrição.



Dr. Paulo Santos

paulo@ci.uc.pt

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