segunda-feira, 20 de abril de 2009

GARÇON DE GRIFE



Garçons de grifeModelos, universitários e estudantes de teatro são os profissionais mais requisitados para trabalhar em restaurantes

Júlio trabalha com as roupas da marca Armani.
Garçom do tipo tradicional, que fica plantado ao lado da mesa de terno branco e gravata borboleta, começa a entrar em extinção. Todo restaurante ou bufê moderninho só quer empregados de grife. Universitários, estudantes de teatro e modelos fazem fila para trabalhar nesses estabelecimentos por salários que variam de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil por mês. Com um rosto bonito e disposição para trabalhar também aos sábados, domingos e feriados, não é difícil galgar um espaço na área. Contratados por quesitos como desinibição e fluência em inglês, muitos chegam sem experiência, mal sabendo como segurar uma bandeja. Mas, com um pouco de treino, tornam-se estrelas.

Quando atende um cliente reclamão, Tomaz, do Ritz, se resigna: “Até o princípe William já limpou banheiro”

No recém-inaugurado Emporio Armani Caffé, na região dos Jardins, em São Paulo, a equipe parece saída das páginas de revistas. Os garçons vestem roupas da marca italiana e esbanjam estilo. Com 1,83m e olhos azuis, Júlio Diotto, 24 anos, é modelo e aspirante a ator. Já fez participações no seriado Sandy & Júnior e numa novela da Rede Record. Hoje sua principal ocupação é trazer pratos quentes da cozinha às mesas dos clientes. Nunca havia se imaginado trabalhando como garçom, mas aceitou a função para pagar o aluguel. “Não é como trabalhar em qualquer boteco”, avisa Júlio. “Os clientes sabem que não somos garçons comuns e até o gerente nos deixa trocar de turno para fazer testes de comerciais, teatro e tevê.”

Pedro trabalha no Bar D' Hotel, Rio, enquanto não se forma em jornalismo.
Na pizzaria Piola, também na região dos Jardins, exceto pelo avental e a camiseta com o logotipo do restaurante, nenhum deles lembra um “garçom comum”. De tênis Nike, bermuda listrada, piercing na orelha e cabelo descolorido, o ator Guilherme Tavares, 21 anos, porta-se como amigo dos clientes e, por ordem do patrão, não serve bebidas nos copos nem coloca pedaços de pizza nos pratos. “Ficar no pé das pessoas é muito chato”, diz. O gerente, Alexandre Cogo, 27 anos, explica a filosofia da casa: “Se um amigo vai te visitar, você não precisa abrir a lata de refrigerante: ele se serve. Contratamos essa rapaziada para facilitar a empatia com o público.”

Os frequentadores do Piola parecem adaptados à informalidade. Na semana passada, ao se apoiar no braço da cadeira da decoradora Margarete Carvalho, Guilherme esbarrou na perna dela. Em vez de uma bronca, ouviu sonoras gargalhadas – de Margarete e das cinco amigas presentes à mesa. “Se fosse um daqueles garçons engravatados, teria batido nele. Mas com essa carinha, não dá para ficar brava”, brincou a cliente.

A ARTE DE SERVIR

No restaurante Ritz, um dos primeiros de São Paulo a ter a mão-de-obra da molecada, só se contratam pessoas com o mesmo perfil jovem de seus clientes. “Há 20 anos, quando começamos, tinha pai que vinha tirar o filho porque não aceitava vê-lo trabalhando de garçom”, lembra Sérgio Kalil, um dos proprietários do restaurante. “Agora, o preconceito é menor. Trabalhar com gastronomia, turismo ou hotelaria dá status.”


Numa inversão do padrão tradicional, quando os melhores garçons tinham décadas de prática, jovens inexperientes saem na frente na disputa. Diariamente, Kalil recebe de cinco a dez pedidos de emprego. Se o candidato tem mais de 30 anos, ele saca da carteira uma lista com os nomes de mais de 30 interessados e, gentilmente, explica que não há vagas. Tomaz Valentim, 20 anos, não precisou de mais do que meia hora de conversa para conseguir uma. Com porte atlético e cabelos cacheados à la Caio Blat, está se dando bem no serviço. “Além de gostar do ambiente, aprendi a ter humildade. Quando atendo algum cliente reclamão, lembro que o príncipe William já teve de limpar banheiro e me conformo.”







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